1 de novembro de 2009




Esta não é a estória de um gato vulgar.
Esta é a estória do gato mais inteligente que conheço. E eu conheço muitos!
E também de um homem muito especial. Que, por acaso, é meu pai.


Eu e este gato fomos apresentados há mais de 2 anos.
Tinha sido o gatito pedido pelo meu pai e, quando chegou aqui a casa, tinha um palmo de tamanho e uns olhos curiosos.
Depressa cresceu e tornou-se um gato enorme, com uma personalidade à altura.
De mim, roubava-me descaradamente mimos sempre que eu vinha à casa-mãe!
E eu retribuía sem esforço! Sabia como ele gostava que eu lhe fizesse festas na cabeça e deixava-o deitar-se sobre os meus pés enquanto eu folheava um livro nas tardes calmas de Domingo. Nesta e em tantas outras.
Sendo, definitivamente, um gato de grande inteligência, aprendeu, desde pequeno, muitos truques e brincadeiras que nos faziam rir e que gostávamos de contar.
Aprendeu a tirar os atacadores das botas do meu pai. Sabia abrir e fechar algumas portas.
Conseguiu até arranjar uma estratégia para sair, durante a noite, da arrecadação onde dormia, deixando a janela fechada para que os outros 2 felinos não pudessem sair.
De manhã, era vê-lo feliz, à espera que saíssemos de casa! Emocionado pelas aventuras da noite, mas desejoso de uns mimos.
Quando o meu pai se reformou, aprendeu com ele as rotinas do campo e acompanhava-o a toda a parte. Era um companheiro fiel. E todos os dias observava e aprendia.
Entre outras coisas, conseguiu aprender a abrir as gaiolas onde o meu pai tinha coelhos. E, lado a lado com ele, ia abrindo e fechando as portinholas, enquanto o meu pai tratava dos animais.
Um dia, os instintos foram mais fortes. Sozinho, decidiu abrir uma porta e caçar uns quantos coelhos pequenos. O meu pai, que se encontrava por perto, apercebeu-se e, num ataque de fúria, atirou-lhe com qualquer coisa que tinha por perto.
O gato caiu como morto. O meu pai levou-o para o quintal, achando que não sobreviveria.
Estávamos, talvez, em Maio.
Durante estes meses foi quase proibido falar do episódio cá em casa.
De vez em quando lembrávamo-nos dele pois deixou-nos em herança uma gatinha muito parecida, em pelagem e em carácter.

E o gato, contra todas as expectativas, sobreviveu!
Há pouco mais de um mês vimo-lo a rondar a nossa casa. Uma vez, outra vez…
Primeiro surgia de repente e desaparecia logo de seguida. Depois foi arriscando ficar por momentos. E depois foi arrastando esses momentos.
O meu pai, que nunca foi um homem rancoroso, foi-o chamando. “Menino, menino!
Há uns dias que voltou para ficar. Já tem novamente autorização para comer e dormir por aqui.
Hoje vi-o pela primeira vez em meses.
Continua um gato imponente. Com o pêlo mais escuro, com umas quantas sequelas de uns meses de vida selvagem, mas com os mesmos olhos curiosos.
Não precisei de o chamar. Sentei-me e ele deitou-se sobre os meus pés. Como se nunca tivesse ido embora.
E encantou-me, como sempre!

Mas a razão para contar esta estória, não tem a ver com o regresso de mais um gato à família. O que me admira e quero salientar – e que me deixa orgulhosa - é a capacidade de perdão.
Do meu pai (a quem o gato roubou os coelhos) e do gato (a quem o meu pai quase matou).
Estes seres admiráveis que eu tive a sorte de ter na minha vida.
Que seja esta uma lição. Para mim e para todos os que precisamos de aprender a perdoar.

Bom Domingo!
 
Meia dúzia de palavras, já escrita fora de horas, pelas 03:02
18 Comentários:


At domingo nov. 01, 11:54:00 da manhã, Blogger RR

Que texto tão bonito, Marina...
Confesso que durante alguns segundos fiquei revoltada com o gesto do teu pai (em atirar qualquer coisa ao gato), mas acho que acabei por entender.

Perdoar algo...perdoar alguém...
O que acontece quando, para conseguires perdoar os outros, é a ti que não perdoas?

 

At segunda nov. 02, 03:23:00 da manhã, Blogger Marina

O meu pai atirar qualquer coisa ao gato foi um instinto. Tal como o do gato em matar os coelhos.
Impossível de conter.

E perdoar a nós próprios, é sempre o mais dificil...
Que nós conhecemo-nos demasiado bem para esconder as razões (que achamos que temos) em alguns recantos e lágrimas noutros.
Balançando entre os dois sem saber o que fazer...

As vezes, acho que é preciso dizer bem alto o que nos consome. Mas para isso, é preciso discutir o que nos magoa. As vezes, contra todas as probabilidades, nós aceitamos entrar no jogo mas não temos par...

 

At segunda nov. 02, 02:07:00 da tarde, Blogger R.

Bem, eu se passar por aí prometo não atacar os coelhos. :)

Talvez devesses ter uma conversa lá com o teu gato. Talvez ele entenda bem como das outras vezes, quem sabe? Afinal, é o gato mais inteligente que conheces. :)

R.

 

At segunda nov. 02, 02:41:00 da tarde, Blogger IC

Sim, Marina, saber perdoar é tão importante! Mesmo a nós próprios, pois somos seres muito imperfeitos e os erros são sempre aprendizagens (quando queremos humildemente reconhecê-los e aprender com eles).

Obrigada pela tua visita. Há bastante tempo que não falávamos, pois eu andei em férias prolongadas da blogosfera.
Beijinhos

 

At segunda nov. 02, 04:57:00 da tarde, Blogger Bruno Carvalho

Excelente texto, e um bonito retrato de uma história de perdão fossem todas as nossas relações humanas como esta relação gato/homem e não seriamos tanto este seres egoistas e solitários que somos, quando digo nós, digo seres humanos. ;)

 

At segunda nov. 02, 06:44:00 da tarde, Anonymous Anónimo

quem me dera ter um bichinho...mas um cao que n eu cá n gosto de gatos!!! mas mesmo os gatos sao bem mais inteligentes q certas pessoas.
é compreensivel o acto do teu pai, irrefletido por certo. ainda bem q tudo acabou em bem :))
já tive varios caes e a todos eles perdoei as "desgraças" q eles por cá faziam ,mas perdoar pessoas n sou capaz, sou mt rancorosa... :((

jokinhas
sandra jusefina
:))

 

At segunda nov. 02, 06:48:00 da tarde, Anonymous Sónia

Fico feliz por teres de volta o teu querido gatinho. Ao ler a tua história não contive uma lágrima, também eu sei o que é a ausência de um bichano inteligente e meigo, no meu caso uma gata.

Beijinhos e que o gato te continue a fazer sorrir por muito tempo.

Sónia

 

At segunda nov. 02, 06:49:00 da tarde, Blogger IM

Fantástico, Marina...é um episódio de verdadeiro amor entree dois seres que as circunstâncias da vida obrigaram a uma separação...
Concordo coma Rute em relação a um arrepio que se sente quando dizes que o teu pai atirou qualquer coisa ao gato que quase o matou, mas compreende-se o desespero...dele...e do gato. Que bela história...

 

At terça nov. 03, 03:05:00 da manhã, Blogger Marina

R, nem imaginas quantas conversas ja tivemos!!! Mas ele é um rebelde...

IC, andas de férias e eu sem tempo para estas lides internéticas...
Obrigada pela visita!
Ja tinha saudades dos poemas no teu cantinho.

Bruno, bem vindo aqui ao meu sítio!
Sim, tens razao, como seria bom que todos conseguissemos por as magoas para tras e reforçar as amizades.
Ate breve!

Ai Sandra Josefina, que isso de perdoar pessoas dava posts e posts!
;-)
Eu tambem gosto de caes mas... nao e a mesma coisa.
Nao queres adoptar uma gatinha?
Agora com os 4 felinos la em casa esta a ficar dificil...

Entao, Sonia, estas a ficar lamechas? ;-)
Nem a radioactividade e a comida da cantina te fazem uma mulher rija? eheheheheh
Nao sabia que tinha acontecido alguma coisa a tua gata...

IM, que seriamos nos sem os nossos animais!
E sim, consigo compreender os dois como ja disse la em cima... Mas o que importa é que ambos tenham superado isso.
É mesmo uma bela história!

Boa semana a todos!

 

At quarta nov. 04, 12:14:00 da manhã, Anonymous Rui

Os gatos têm mesmo 9 vidas... ou serão 7? :)

 

At quarta nov. 04, 02:28:00 da tarde, Anonymous Sónia

Em Março passado as gatas tiveram o seu primeiro cio, e uma delas aproveitou uma distarção para fugir de casa e não mais voltou. Prefiro acreditar que foi apanhada por alguém que a está a tratar bem, porque é uma gata muito meiga e que vai ter com qualquer pessoa. è daquelas gatas que mal te sentas salta para o teu colo e começa a ronronar. Temos muitas saudades dela...

Beijos,
Sónia

 

At sábado nov. 07, 08:49:00 da tarde, Blogger barriguita

não sei se já alguma vez te disse que... ADOOOOOOOOOOOOOOOOOOORO gatos!!!
agora também lamento informar que só consideras esse gato o mais inteligente, porque cnunca conheceste a "minha" Miufa ;)
eu sei que já conheceste a minha irmã...mas não é bem a mesma coisa :p

 

At domingo nov. 08, 07:36:00 da tarde, Anonymous Anónimo

bom, lá escreveste mais 1 texto bonito. daqueles que nos fazem verter uma lágrima.
e lá venho eu dar cabo disto tudo...
é que eu até estava quase a verter a dita lágrima, mas depois o meu instinto de racionalizar fez-me pensar:"oh diabo, então o gatinho atira-se aos coelhos e eu tenho de por em prática a acção de perdoar?"
e foi aqui que tudo se estragou. a lágrima que estava quase a cair ainda perguntou "como é? posso cair ou não? e eu disse-lhe "claro que não".
se esses coelhos fossem meus, esse gatinho, que certamente não seria meu, é que teria que desenvolver a capacidade de perdoar. de me perdoar por lhe aventar com coisas de massas variáveis e maiores que a sua massa corporal.
e pronto, está feito. mais um texto teu (muito bonito, sem dúvida) que teve que ser mal comentado por um meu.
mas foi mais forte que eu. teve que ser.
hasta

 

At segunda nov. 09, 12:17:00 da manhã, Blogger Marina

Rui, acho que tem 9 no mínimo! ;-)

Sónia, não sabia da "tua" historia... :-(
Os bichanos deixam umas saudades... como te compreendo.
Acho que imaginares que ela esta bem é mesmo o melhor que podes fazer.
Beijinhos miuda!

Bem, Barriguita, apesar de o meu gato ser mt inteligente, a tua irma é mais inteligente que o meu gato! looooooooooooooooooooool
(Andreiinha, sera que ainda vens ca ler o que eu escrevo? eheheheheh)
Quanto a tua gata... so vendo! :p
Se quiseres, traz ca para cruzar com o meu gato e vao ter gatinhos super mega inteligentes! =)

Ola Anonimo pouco anonimo.
Ias vertendo uma lagrima??? Tu??? Seu insensivel...
Eu acredito que tu no fundo, no fundo, tens um coração de manteiga!
E essa ideia das massas variaveis, acho que deve ter a ver com aulas de laboratorio a mais! :p
Hasta!

 

At quarta nov. 11, 01:34:00 da manhã, Blogger Andreia

Irmã és muito parva! Só te perdoo porque me comparaste com a Miufa, a gata mais linda e inteligente do mundo! :)
Tenho saudades dela e das suas brincadeiras... snif snif...

Marininha, eu venho sempre ler o teu blog, só que não deixo comentários... como tu dizes "sou croma"

Beijinhos para vocês :)

 

At quarta nov. 11, 02:37:00 da manhã, Blogger Marina

Andreiinha, és uma croma mas és uma croma simpatica! =)

Beijinhos blogamiga da realidade
eheheheheheh

 

At quarta nov. 11, 03:07:00 da tarde, Blogger Unknown

Fico feliz por todos estarem felizes!!!
Notei que na tua casa todos estavam tristes com este episódio...
Foi sem dúvida uma bela história, com muita moral e com um belo final feliz!!Daquelas que eu tanto gosto e que nos deixam os olhos cintilantes de emoção.
Um beijo para toda a familia (gato incluido claro!)
XXXX ;)

 

At sexta nov. 13, 02:05:00 da manhã, Blogger Marina

Eu tambem fico feliz porque tu estas feliz! =)

E sim, nos adoramos o gato (que tu, infelizmente, não pudeste conhecer...)
Tens de voltar para o cumprimentares pessoalmente! ;-)