Sempre que penso em ti, vem-me à memória a alegria com que, em miúda, esperava as tuas visitas. Não sei se sabes, mas sempre foste o meu preferido!
Uma das vezes, de tão depressa que ia para casa para te ver, caí da bicicleta e foste tu que tiveste de me levar ao Hospital. A correria valeu-me cinco pontos num lábio e estive uma semana sem conseguir comer... Mas, se era por ti, valia a pena!
Era nisso que pensava há pouco, enquanto atravessava a ponte, de regresso a casa.
Trazias-me de Lisboa os presentes mais espectaculares, coisas que ninguém tinha lá na rua. Lembro-me de quando me deste a minha primeira máquina de calcular científica e eu achei que era o presente mais fixe que alguma vez tinha recebido!
Ainda guardo os postais que me enviaste de tantos lugares. Lembro-me, em particular, de um da Madeira, com o fogo-de-artifício da passagem de ano. Não sei porquê…
Tinhas uma letra bonita e escrevias Marina com um “M” que me fazia lembrar a letra da minha mãe.
Detestava o teu bigode. Dizia-te, em pequena, que um dia, enquanto dormisses, iria cortá-lo sem que desses conta! Estranho, nestes últimos tempos, era a falta que mais estranhava em ti…
Nem sempre estávamos de acordo, eu sei. Eras de ideias fixas. Eu também.
Quando te disse que me tinha inscrito num mestrado, achaste que era um perfeito disparate.
Mas foste tu que, no primeiro dia, me foste esperar à Estação de Santa Apolónia. Emprestaste-me a tua casa para dormir e fazias-me o jantar. Nunca te disse que não gostava de lulas…
No final, quiseste estar presente no dia em que defendi a minha tese. E, tenho a certeza, tiveste orgulho em mim.
Lembro-me que, há pouco tempo, já muito doente, esperaste por mim durante horas enquanto eu não saí do Hospital. É que quando eu, ainda meia inconsciente, estava deitada no chão, foste tu que eu pedi para chamarem…
Neste dia, são tantas estas pequenas coisas de que me lembro.
Escrevê-las, é mais uma maneira de lembrar-te. Como se esquecer-te fosse possível...
Hoje ficam apenas as lembranças.
E as rosas. Para ti.
