26 de abril de 2010




Hoje, parti trazendo em mim a mágoa de quem não sabe se voltará.
Ou se, quando voltar, encontrará o que deixou…
Hoje, em silêncio, lamentei as palavras que não disse e os beijos que não dei.

Lamentei os medos e as ausências.
Hoje, em silêncio, desejei ficar mais um pouco.
Porque a vida é frágil e escorrega-nos das mãos.
E o tempo foge-nos a cada respiração.
E o amanhã é tão incerto como um jogo de dados.

Hoje, em silêncio, parti.
 
19 de abril de 2010




Há perguntas que são apenas perguntas.
E há perguntas que, parecendo simples, trazem uma teia de perguntas enlaçadas.

Que escondem dentro, como matrioskas, uma e outra e outra pergunta...
E questionam até o que deveria permanecer inquestionável. Cada vez mais dentro.
E cada resposta a que chegamos levanta mais perguntas. Reacção em cadeia. Incontrolável.
E as perguntas que pareciam simples vão pedindo respostas que não podemos dar. Que não queremos dar. Nem a nós. Sobretudo a nós.
 
9 de abril de 2010





















Desta vez, a primeira em que parei para ver a cidade do lado de cá do rio, relembro as vezes, quase todas, em que cheguei ao Porto de comboio.
À minha frente, o rio e as casas, cheias de cor, que povoam as encostas.
Os barcos que da janela do comboio me pareciam tão pequenos adquirem hoje outras proporções. Ao olhar para cima apercebo-me realmente da altura daquela ponte que me fazia vertigens. Nunca gostei muito de pontes...
E de repente, na minha cabeça, desfilam memórias de outros tempos.
Pessoas e lugares que fazem parte da minha história. Retalhos q
ue o tempo me tinha feito esquecer, sem querer, e que voltei a encontar.
E foi assim que, ao contemplar a cidade, achei aqui bocadinhos de mim que ainda nem sabia que tinha perdido.
 
6 de abril de 2010



























Este foi um dia como outro qualquer.
Amanheceu bonito, cheio de Sol. Talvez um pouco quente de mais… Mas, todavia, bonito.
Para mim, estranhamente, amanheceu cedo… E estranhamente soube-me bem!
Pude levantar-me devagarinho, saboreando cada minuto - que normalmente não tenho.
Pude observar, calmamente, o céu azul, e contemplar os gatos que se espreguiçavam, felizes, pelos terraços.
E a manhã avançou, o Sol subiu no céu, e o dia entardeceu como tantos outros.
Foi uma tarde de viagens.
Mas com tempo para reparar em pormenores que, tantas vezes, me fogem com a pressa do olhar.
E pude fazer mais umas quantas tarefas, adiadas tantas vezes…
Pelo meio, passaram-me pela alma pensamentos, devaneios, canções e poemas. Até mesmo alguns que nunca foram escritos.
E o dia anoiteceu, como outro qualquer.
E no silêncio da noite, vi as palavras abandonadas por este meu canto, um pouco vazio de mim, que me trouxeram uma pontinha de tristeza…
E hoje, ao contrário de tantas outras noites, consegui conjugar o tempo e a vontade, e deixei-me perder por aqui.
E saboreei as palavras. E brinquei com elas.
E, antes de partir - como noutra noite qualquer - larguei-as ao vento para se espalharem por aí e pousarem no coração de quem vier por bem.